Compreensão do TEA nas áreas médica e da educação é abordada em TJMT Inclusão, em Sinop
Como
identificar os primeiros sinais do autismo? Quais são os desafios enfrentados
por quem vive no espectro? E de que forma a ciência tem avançado para garantir
mais dignidade às pessoas com TEA? Essas foram algumas das perguntas
norteadoras da mesa “Compreendendo o Transtorno do Espectro Autista”, que
reuniu o médico psiquiatra Bruno Trevisan, a neuropsicóloga Isabella Trombetta
e a psicomotricista Alyne Gracioli. Tais abordagens foram trazidas como parte
da programação do “TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo”,
promovido pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do Tribunal de Justiça de
Mato Grosso, nesta segunda-feira (24 de março), em Sinop (500 km de Cuiabá).
Durante
o debate, os profissionais compartilharam experiências clínicas e abordaram
desde os critérios diagnósticos até o impacto das terapias integradas na
qualidade de vida das pessoas com autismo. Destacaram, ainda, a importância da
atuação conjunta entre saúde, educação e assistência social, para garantir
atendimentos mais completos e humanizados. O público pôde tirar dúvidas e
conhecer caminhos para superar as barreiras enfrentadas no dia a dia por
pessoas autistas e suas famílias.
Também
na programação da manhã, o psiquiatra infantil e adulto, Bruno Trevisan,
destacou os critérios diagnósticos do TEA segundo o DSM-V, os impactos sociais
do transtorno e a importância de um tratamento precoce e individualizado. Ao
abordar a neurodiversidade e os desafios enfrentados pelas famílias, o
especialista reforçou a necessidade de ações conjuntas entre profissionais da
saúde, escola e comunidade para garantir uma melhor qualidade de vida às
pessoas com autismo. “É preciso ter sensibilidade e é um trabalho elaborado por
uma equipe multidisciplinar porque o diagnóstico é complexo. A única coisa que
não pode é não tratar”, apontou.
Complementando
as discussões, a psicóloga Isabella Cucci da Paixão Trombetta apresentou as
vantagens da intervenção precoce, com destaque para o Modelo Denver (ESDM), uma
abordagem baseada nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA). A
profissional explicou que quanto mais cedo se inicia o tratamento — com
estratégias estruturadas e individualizadas — maiores são as chances de
progresso em áreas como comunicação, autonomia, socialização e comportamento.
Isabella ressaltou ainda que a aplicação contínua das intervenções, em
diferentes ambientes e com envolvimento da família, é fundamental para garantir
a eficácia do tratamento. “Falar sobre autismo com o apoio do Judiciário amplia
a compreensão da sociedade e fortalece a luta por intervenções mais rápidas e
eficazes”, destacou.
Encerrando
essa rodada de palestras, a pedagoga Alyne Gracioli trouxe uma importante
reflexão sobre a inclusão escolar. Com ampla experiência em educação inclusiva,
Alyne abordou conceitos como igualdade, equidade e adaptação curricular, além
de detalhar o Plano de Ensino Individualizado (PEI) como ferramenta
indispensável no processo de aprendizagem de alunos com TEA. A especialista
destacou que o papel do professor é central na inclusão, mas que o sucesso do
processo depende de uma rede colaborativa entre escola, família e terapias
complementares. “A inclusão só acontece de verdade quando há compreensão e
estratégias práticas dentro da sala de aula — e o papel do Judiciário é
essencial para garantir que esses direitos sejam respeitados”, disse Alyne.
A
mesa também reforçou que o diagnóstico do TEA deve ser entendido como um ponto
de partida para um plano de cuidado individualizado, não como um rótulo
limitador. Os palestrantes destacaram a necessidade de políticas públicas
integradas, que garantam o acompanhamento contínuo e o apoio às famílias, fator
determinante para a inclusão plena e efetiva.
TEA
no ambiente escolar - O ambiente escolar é um dos principais pontos de contato
entre crianças com autismo e o mundo ao seu redor. Mas como garantir que esse espaço
seja, de fato, inclusivo? Essa foi a provocação central da atividade “Autismo
em cena: Análise comportamental das crianças autistas em sala de aula”,
conduzida pela mestre em Educação Andresa Damaceno e pelas psicólogas Eloísa
Lima e Luciana Mota. “É um processo que exige reforços positivos para transpor
barreiras e desenvolver habilidades. As atividades devem ser funcionais”,
apontou Andresa.
As
especialistas abordaram o comportamento infantil no contexto educacional,
demonstrando como o olhar atento do professor e o suporte adequado da equipe
pedagógica podem transformar a trajetória de um aluno com TEA. Estratégias
práticas, como a adaptação de rotinas e o fortalecimento do vínculo afetivo,
foram compartilhadas com o público, reforçando que inclusão exige ação e
preparo. “É uma deficiência invisível. E são vários desafios para assegurar
dignidade às pessoas com autismo. Tudo para potencializar ganhos”, apontou
Luciana.
AMA
Sinop – Também durante a programação da manhã, foi apresentada a atuação da Associação
das Mães de Autistas (AMA) de Sinop, sob a presidência de Josilene Moraes. A
entidade, sem fins lucrativos, fundada em 2019, atua na defesa dos direitos das
pessoas com TEA e hoje atende mais de 70 crianças carentes com terapias
interdisciplinares, promovendo inclusão social e fortalecendo os vínculos
familiares.
Durante
a apresentação, a equipe compartilhou a missão da AMA, que vai desde a luta por
direitos até o apoio direto às famílias que não têm acesso a tratamentos
adequados. Também foram destacadas as ações desenvolvidas pela associação, como
a Caminhada de Conscientização, atividades do Dia das Crianças e eventos
especiais como as Paraolimpíadas. A palestra reforçou a importância da empatia,
do engajamento social e da necessidade urgente de apoio financeiro para ampliar
os atendimentos, já que a entidade mantém uma fila de espera com cerca de 300
crianças e conta com recursos limitados para sustentar sua estrutura e equipe
técnica. “Somos muito gratos pelo Tribunal de Justiça abordar esse tema tão
importante. Quanto mais informação à sociedade, mais conseguimos gerar a
inclusão”, evidenciou Josilene, lembrando que no próximo dia 02 de abril é
celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
Essa
troca de saberes integra a proposta do TJMT Inclusivo, evento promovido pelo
Tribunal de Justiça de Mato Grosso, por meio da Comissão de Acessibilidade e
Inclusão, sob presidência da desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, em
parceria com a Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e Escola dos
Servidores do Poder Judiciário de Mato Grosso. Em Sinop, o evento reuniu cerca
de 1,1 mil pessoas no evento híbrido, realizado no campus do auditório da
Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
Compreensão
do tema - Participantes relataram o impacto positivo da iniciativa em suas
rotinas profissionais, reforçando a necessidade de mais espaços como esse para
promover inclusão e acolhimento nas instituições.
“A
proposta do evento está muito bacana, porque trouxe uma abordagem acessível sobre
o Transtorno do Espectro Autista (TEA), voltada não apenas para especialistas,
mas para todos os profissionais da rede de educação e saúde”, avaliou a
psicóloga Maria Helena Figueira, da equipe psicossocial do Centro Municipal de
Educação Especial Inclusiva (CMEIS). Atuando nas escolas municipais, ela
destacou a importância de exemplos práticos e explicações claras sobre o TEA.
“As falas foram extremamente explicativas, muito coerentes. Estou vendo
professores aprendendo como atuar, entendendo o porquê das abordagens. E isso é
fundamental para fortalecer a rede e superar as deficiências que ainda
enfrentamos, principalmente na articulação com o sistema de saúde”, completou.
A
professora Adriana da Silva Brito, que atua na sala de Atendimento Educacional
Especializado (AEE), também elogiou o evento por sua contribuição à formação
continuada dos educadores. “Me formei em 2004 e não me lembro de ter recebido
qualquer preparo sobre esse tema. E hoje, com as salas cada vez mais
desafiadoras, essa formação precisa melhorar”, alertou.
Programação – No período da tarde, a programação inclui temas relevantes como o debate sobre “Inclusão Social e Neurodiversidade”, conduzido pela doutora em Neurociências Anita Brito, além do painel “Lugar de autista é onde ele quiser estar”, apresentado por Nicolas Brito Sales — ativista autista, escritor e fotógrafo. Outro destaque é a roda de conversa “O uso da tecnologia assistiva em crianças com Transtorno do Espectro Autista”, que contará com a participação da juíza da Comarca de Sinop, Melissa de Lima Araújo, juntamente com especialistas das áreas de psicopedagogia, fonoaudiologia e representantes da Defensoria Pública.
O encontro vai abordar aspectos ligados à inclusão no ambiente escolar, às ferramentas tecnológicas de apoio, ao atendimento jurídico e ao papel do sistema de Justiça no acolhimento das pessoas com TEA.
Confira a programação do evento na cidade de Sinop
Acesse a transmissão do evento.
Essa iniciativa integra um conjunto de ações do TJMT em conformidade com a Resolução 401/2021 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estabelece diretrizes de acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência no Judiciário.
Após a etapa em Sinop, o projeto TJMT Inclusivo segue para o município de Sorriso, localizado a 397 km de Cuiabá, nesta terça-feira (25 de março), e finaliza o circuito com uma programação especial na Capital, no dia 4 de abril, em parceria com a Prefeitura de Cuiabá.
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Talita Ormond / Foto: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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