Direitos, ciência e vozes atípicas: TJMT leva inclusão ao centro do debate
“Autismo:
Compreensão e a Busca por Direitos no Poder Judiciário”. Esse foi o tema da
palestra apresentada pelo juiz Antonio Veloso Peleja Júnior durante a
programação do TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo, nesta
terça-feira (25 de março), em Sorriso (397km de Cuiabá).
O
magistrado, que atua como juiz-auxiliar da Vice-Presidência do TJMT e também
coordenador pedagógico da Escola Superior da Magistratura de Mato Grosso
(Esmagis-MT), destacou às centenas de pessoas presentes no Centro de Eventos
Ari José Riedi a urgência de decisões judiciais mais conscientes e
fundamentadas no tratamento das pessoas com Transtorno do Espectro Autista
(TEA). Aos operadores do Direito, especialistas, autoridades, pessoas autistas,
educadores, profissionais da saúde e sociedade civil, o juiz evidenciou ainda a
necessidade de uma abordagem multidisciplinar e baseada em evidências
científicas para garantir o acesso efetivo aos direitos fundamentais, como
saúde, educação e inclusão. "Nem sempre os temas chegam amadurecidos ao
Judiciário. Por isso, é fundamental o diálogo entre a comunidade jurídica e a
sociedade”, observou.
O
magistrado resgatou a analogia feita com a “Medalha de Coração Púrpura”, que
evidencia a invisibilidade social de condições neuroatípicas, como o autismo,
que, por não apresentarem marcas físicas, ainda enfrentam estigmas e barreiras
ao reconhecimento institucional.
Outra
abordagem tratou sobre a judicialização da saúde no contexto do TEA, abordando
o impacto das decisões judiciais sobre os sistemas públicos e privados e
enaltecendo a importância de decisões equilibradas que respeitem os limites
institucionais, mas que não negligenciem o direito constitucional à saúde. Com
base em dados do Código de Defesa Civil e em pesquisas recentes, como a
publicada na Nature (2023), foi defendido o diagnóstico precoce para assegurar
o desenvolvimento de pessoas com TEA, reforçando a necessidade de políticas
públicas eficazes e atualizadas.
Por
fim, a palestra reforçou que a atuação do Judiciário pode ser um agente
transformador na garantia de direitos das pessoas com TEA, desde que pautada na
medicina baseada em evidências, com apoio de plataformas digitais, cursos
especializados para magistrados e integração entre os Poderes. "O objetivo
é trazer essa discussão para todos, especialmente para os juízes, para que
possam decidir com base em parâmetros sólidos e atualizados", ponderou o magistrado.
A
juíza Paula Saide Biagi Messen Mussi Casagrande, titular da 1ª Vara Cível de
Sorriso e que atua como diretora substituta do foro, destacou a importância da
interiorização das ações do Poder Judiciário, como o TJMT Inclusivo, que trouxe
à Comarca esse debate sobre o autismo e suas diversas dimensões. Para ela, a
presença de profissionais de diferentes áreas, especialmente professores,
fortalece o compromisso com uma convivência mais empática e decisões judiciais
mais fundamentadas. A magistrada celebrou a oportunidade de atualização e
diálogo direto com a sociedade, especialmente para os magistrados que atuam
longe da capital. "É muito enriquecedor receber um evento como esse em
Sorriso, porque contribui diretamente para nossas decisões e convivência no dia
a dia", apontou.
Posicionamento
compartilhado pelo juiz Glauber Lingiardi Strachicini, que atua na Comarca de
Sorriso e também de Nova Ubiratã. Segundo ele, o evento contribui diretamente
para a formação dos magistrados, oferecendo subsídios técnicos e sensibilidade
para a tomada de decisões mais justas. "A gente louva esse tipo de
iniciativa. Quando o Tribunal vem até a comarca, nos dá mais informação e
conhecimento para decidir melhor".
Ciência
e experiência – O público também foi contemplado pela palestra “O que nós
precisamos saber sobre a Ciência”, conduzida pela neurocientista Anita Brito.
Com uma abordagem acessível e baseada em evidências, ela destacou os principais
avanços no campo das neurociências relacionados ao Transtorno do Espectro
Autista (TEA). Anita defendeu a importância de uma inclusão que vá além da boa
vontade, sendo fundamentada em conhecimento técnico, diagnóstico precoce e
práticas educativas embasadas cientificamente. Para ela, também é necessária a
compreensão dos aspectos neurológicos do autismo para o desenvolvimento de
estratégias eficazes de acolhimento e aprendizagem. "O que causa medo é a
desinformação. Por isso, quanto mais informação, mais respeito, mais empatia e
menos preconceito", disse.
Na
sequência, o público foi impactado pela palestra “Tudo o que eu posso ser”,
ministrada por Nicolas Brito Sales, ativista autista reconhecido nacionalmente.
Por meio da sua história de superação, Nicolas trouxe uma perspectiva sobre a
importância do estímulo, da escuta ativa e da valorização das potencialidades
das pessoas com TEA. Ele reforçou que o diagnóstico não limita os sonhos, e que
cada pessoa autista carrega consigo um universo de talentos a serem descobertos
e incentivados. Sua fala emocionou os presentes ao mostrar que inclusão também
se faz com representatividade. “Quis mostrar, com minha história, que cada
pessoa tem o seu talento e pode construir sua própria carreira. Basta acreditar
no que pode ser".
Participação
ativa – “Ver que o Poder Judiciário está do nosso lado é gratificante. A gente
sabe que não está sozinho”. Esse foi o depoimento da professora Ediene Colosse
ao assistir à palestra do juiz Antonio Veloso Peleja Júnior. Ela ressaltou o
alívio e a esperança que sente ao perceber que o Poder Judiciário está atento e
engajado nessa causa. “Saber que há instituições comprometidas com a garantia
de direitos e com o olhar sensível sobre a realidade das famílias é um sinal de
que a luta pela inclusão não está sendo travada sozinha”, disse.
Mãe
atípica, Sonia Lifante preside a ONG Sorriso Azul e celebrou a realização do
TJMT Inclusivo em Sorriso. Ela afirma que ações como essa são essenciais para
ampliar o conhecimento sobre os direitos das pessoas com deficiência,
especialmente as com TEA. Segundo ela, a legislação brasileira é abrangente e
garante diversos direitos, mas ainda é pouco conhecida, o que reforça a
importância de iniciativas que aproximem o Judiciário da população e promovam
diálogos com especialistas. “Eventos como esse fortalecem os professores e
profissionais da saúde para que possam orientar as famílias e buscar o
diagnóstico precoce".
Para
o professor Joaquim Borges de Souza, que atua no Atendimento Educacional
Especializado, as palestras auxiliarão no aprimoramento de sua atuação
pedagógica junto aos alunos com TEA. Ele destacou a relevância da formação para
fortalecer tanto o trabalho em sala quanto o diálogo com as famílias dos
estudantes. “Esse conhecimento que a gente dedica aqui, a gente leva para o
nosso trabalho e também transmite para os pais, que muitas vezes não puderam
estar presentes", apontou. “E ajuda a gente a reforçar com as famílias que
o estímulo em casa e a socialização fazem toda a diferença no desenvolvimento
das crianças com autismo", complementou. Confira aqui a íntegra da
transmissão do evento em Sorriso.
A
ação, realizada pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do TJMT em parceria
com a Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e a Escola dos Servidores do
Poder Judiciário de Mato Grosso, faz parte de uma série de iniciativas
promovidas pelo TJMT, alinhadas à Resolução n° 401/2021 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que orienta sobre políticas de acessibilidade e inclusão de
pessoas com deficiência no âmbito do Judiciário.
Para
a desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, que é presidente da Comissão
de Acessibilidade e Inclusão e é vice-presidente do TJMT, a aproximação da
sociedade por meio de eventos como este contribui para um Judiciário mais
sensível, eficiente e preparado para lidar com as demandas sociais, defendendo
ainda uma atuação mais proativa e empática, tanto na aplicação da legislação
quanto no combate ao preconceito. “Autistas são pessoas como qualquer uma de
nós, e muitos têm habilidades extraordinárias. O que falta, muitas vezes, é
apenas oportunidade e compreensão”, destacou.
O TJMT Inclusivo foi realizado também no município de Sinop (500km de Cuiabá), na última segunda-feira (24 de março). Depois de Sorriso, Cuiabá receberá a próxima etapa desse evento, no dia 4 de abril, que será realizado em parceria com a Prefeitura da Capital.
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Talita Ormond / Foto: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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